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No que você investe seu tempo?

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liberdade

Por: Glauciana Monteiro Nunes

Houve um tempo em que eu trabalhava muito. Chegava a me colocar de castigo, como se ficar um tempinho sem fazer algo era deixar a peteca cair. “Preciso trabalhar, preciso produzir, preciso pagar o aluguel”.

E nessa, fui aceitando trabalhar para instituições e pessoas que não tinham NADA a ver comigo, nem com o meu propósito. Essas pessoas chegam até mim constantemente. Fernanda, minha amiga-sócia, diz que sou um centro gravitacional e que, por inspirar os outros por meio da minha escrita e de alguns dos meus atos (coisa que eu até questiono, porque à distância, pela Internet dá pra admirar muito mesmo….rs. De perto, todo mundo é normal, eu contrario a canção). Pois bem, Fernanda diz que muitas pessoas chegam querendo pegar um pouquinho do mel…rs.

Então, eu embarco nessa, pois me brilham os olhos novos e desafiadores projetos. No entanto, eu já sei que logo ali na frente vai dar merda. Porque se for pra investir tempo e energia, coisas que me são MUITO caras hoje em dia, em algo que não condiz com minha missão….hummmmm, não vai rolar. Primeiro, não vai rolar pra mim.

Consigo descrever detalhadamente a sensação de desempenhar um trabalho que não sou a fim. Eu começo a fazer com ânimo, porque é dessa forma que me proponho a trabalhar sempre. Invisto tempo, energia e amor. Aí, começo a ficar meio enjoada, a torcer o nariz, a reclamar internamente, vou deixando para depois. Claro que a pessoa que me contrata sente tudo isso, pois tudo no Universo é energia e ela flui. Aí, a criatura fica insegura, ainda que inconscientemente, e começa a me cobrar. Quanto mais ela me cobra, mais irrrrrrrc eu sinto. E aí pronto, já deu merda! “Não se move uma montanha por um pálido pedido”, disse o Zeca Baleiro.

Aí nesta semana eu li uma entrevista do Prem Baba, o líder espiritual brasileiro que admiro e tenho acompanhado nos ensinamentos e mensagens. Ele dizia que temos de descobrir a motivação que nos faz acordar todos os dias e desempenhar algo. E me peguei pensando que minha motivação sempre tem a ver em desempenhar algo que pode mudar a vida das pessoas. Ou, pelo menos, ajudar.

Isso pode ser o Coisa de Mãe, onde eu posso chegar com uma palavra de conforto para mães. Ou ajudar a pensar sobre determinado ponto da vida, já que tenho leitores que não são pais. Isso pode ser quando dou alguma palestra ou gravo um vídeo explanando sobre algum assunto espinhoso, mostrando como eu, como a minha experiência, tratei de lidar com tal perrengue. Talvez, com a minha história, eu possa ser ponto de luz para clarear a escuridão de alguém.

A bola da vez é o trabalho que eu e Eduardo, meu marido, estamos fazendo com o Rango do Bem. Uma vez por semana cozinhamos para moradores de rua de São José do Rio Preto, onde moramos. Estamos apenas na quarta semana, mas affffff, quanta motivação. Eu acordo cedo, já penso no cardápio da semana, vou administrando o dinheiro das doações, fazendo listas de compras, pensando em formas de angariar outros tipos de doações, como roupas e produtos de higiene.

No dia do rango, a gente trabalha desde cedo. É ir ao mercado, fazer compra, colocar feijão de molho. Às 16h as panelas começam a funcionar. Corta legumes, descasca alho, cebola, frita, cozinha, assa. Terminada a refeição, é hora de montar as marmitex, separar os garfos, facas, guardanapos e copos no número de marmitas. Pegar as águas na geladeira. Colocar tudo no carro. Fazer uma oração e sair pra entregar. Dirigir, parar, entregar, conversar. O trampo, que começou de manhã, termina por volta das 22h30 – 23h. Isso sem falar na montanha de louças que sobra pra lavar no dia seguinte. Parece que as panelas da vizinhança inteira pularam pra dentro da nossa pia :D

Não tem um real de pagamento monetário envolvido nisso. Todo o dinheiro das doações está sendo usado religiosamente para a compra dos alimentos e embalagens. O que sobra da semana fica em um caixa, para semanas seguintes ou para, no futuro, comprarmos algo a mais para os moradores, que nos pedem roupas toda semana, por exemplo.

E eu? Bem, eu! Mesmo sem ganhar 1 real de dinheiro com isso, ando me sentindo a mais motivada das mulheres. Considerando que estou grávida de quase 7 meses, tenho dois filhos, trabalho em casa, produzindo conteúdo, não tenho empregada doméstica, crio dois gatos… por vezes os pés reclamam do peso, o inchaço insiste em me pegar, os refluxos vivem aqui na garganta, o intestino que custa a funcionar. Enfim, mesmo com esses perrenguinhos físicos naturais da gestação – e do calor – eu não me canso. Quer dizer, me canso fisicamente, mas não paro de fazer. E nem reclamo. E nem sento. Eu sigo em frente!

Pronto, Prem Baba, é isso que me faz acordar e levantar da cama!

O aluguel? Bem, o aluguel vai ser pago. A gente pode se apertar, entrar no cheque especial, pedir a ajuda de algum amigo quando o calo aperta mais (por sorte eles estão sempre por perto e são sempre muito fieis, gratidão!). Acredito que dinheiro é só mais uma energia. Se fizermos o que precisa ser feito da nossa missão aqui no mundo, o Universo dará um jeito de fazer essa energia de sustento chegar até nós.

E reafirmo: não há dinheiro neste mundo, não houve carro neste mundo que eu já tive (e eu já comprei meu carrão SUV automático dos sonhos uma vez), não teve contrato de compra de apartamento, não teve vestido caro da Daslu (ai, que vergonha, assumo, já comprei)… não teve nada disso que me deu tanta força de vontade e motivação por ir fazer algo como agora ando levando uma simples marmita para quem mora na rua.

Estou vivendo a antítese do luxo, do consumo, do poder, do dinheiro. Vou em busca daqueles que não têm casa. Aperto mãos calejadas. Entro em becos cheirando a urina e fezes. Acordo pessoas em sono profundo, anestesiados pelo efeito da droga que consumiram. Olho em olhos que não conseguem me encarar, perdidos, olhando para o nada. Desvio do lixo, que fica exatamente ao lado de onde dorme uma pessoa, enrolada a um saco plástico para se proteger da chuva que cai.

Ah, então eu sou uma pessoa incrível, maravilhosa, “ooooolha que bênção de pessoa, doce, impecável, que se doa para os outros. Ahahahahahahah. Ahahahahaha. Aahahahahahaa. Uma sonora gargalhada para isso. Não. Não. Mesmo. Definitivamente não. Eu sou cheia dos problemas. Sou controladora, sou insegura, cago de medo de um monte de coisas, sou super brava (Eduardo que o diga), sou criteriosa, sou até manipuladora, às vezes. Eu não faço o bem porque um espírito Madre Tereza de Calcutá habita meu ser e eu tenho que fazer isso pelos outros. Eu faço por mim. Eu faço porque eu preciso fazer. A motivação é minha. Estou fazendo por mim, em primeiro lugar, porque eu tenho de fazer. Claro que eu afeto positivamente o outro. Mas, a motivação é fazer por mim. É para deixar minha consciência tranquila, é para eu ter a sensação de que estou cumprindo meu dever. É por estar em paz comigo e meu Deus.

É incrível pensar na Glauciana que eu era há bem pouco tempo. É só voltar uns 8 ou 9 anos. Toda a motivação da minha vida era acordar cedo e ir para um escritório viver o sonho de outra pessoa e ajudá-lo a ficar mais rico, em troca de um salário por mês. A noite, marchava para os cursos, afinal eu precisava me qualificar para deixar o patrão mais rico. Aos fins de semana, dormia. Era preciso dar energia para meu corpo físico.

Hoje, as prioridades são outras. Tomei as rédeas da minha vida. Trabalho em projetos que façam sentido. Ajudo pessoas em causas concretas, reais, que podem promover alguma mudança no mundo. Escrevo coisas com sentido. Cuido de perto dos meus filhos. Cozinho a nossa comida. Compro pessoalmente os nossos alimentos. Levo e busco de escola. Gasto tardes inteiras pesquisando animais ameaçados de extinção com Dudu e fazemos uma obra de arte com colagem para o trabalho dele da escola. Cozinho com todo o amor do mundo para 30 pessoas que moram ao relento da lua e do sol.

E, para mim, é por isso que a vida vale! Essa vida, que acontece agora, é bem rara. Ela acaba em um piscar de olhos. Não há tempo para esperar. O momento é agora!

*Imagem: Daqui.


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